História

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A história do Município de Aracruz pode ser dividida em seis períodos: primitivismo, colonialismo, neocolonialismo, nacionalismo desenvolvimentista, modernização dependente e globalização subordinada.

Segundo os arqueólogos, a ocupação do território do atual Município de Aracruz começou durante a pré-história brasileira, ainda no período primitivo (pré-história – 1.500), há uns 3.200 a.C. (antes de Cristo), ou 5.200 a.P. (antes do Presente), cujos vestígios arqueológicos são os sambaquis, amontoados de conchas de ostras e outros mariscos, encontrados principalmente ao longo dos rios Piraquê-açú, Riacho e Comboios, depositado pelos povos caçadores, pescadores ou coletores de alimentos na natureza, que costumavam escavar e fazer moradias.

Bem mais tarde, por volta do ano 500 da era cristã em diante, enquanto o Império Romano era destruído pelos bárbaros em 475 d.C., conviviam em períodos próximos no território capixaba, possivelmente três tradições culturais indígenas, nomeadas pelos especialistas (arqueólogos, antropólogos e historiadores) como: 1) 500-1.500 – Tradição Tupi-Guarani: Ex: Tupinambá – Tupinikim; 2) 800-1800 – Tradição Aratu: Ex: Pataxó; 3) 1.000-1.600 – Tradição Uma, Ex: Puri e Coroado.

Aracruz hoje orgulha-se de ter encontrado, no Distrito de Santa Cruz, duas urnas funerárias, de cerâmica, com 600-800 anos de idade, dentro das quais os índios da Tradição Aratu depositavam seus mortos de cócoras, antes de seus corpos endurecerem e serem enterrados. Restauradas por arqueólogos, estão sob a guarda da Secretaria de Turismo e Cultura, e em exposição permanente, no Museu Histórico de Santa Cruz.

No período colonial (1500-1810), quando a região era habitada pelos índios Goitacaz, extintos no século XVII, portugueses e índios temiminós, de Niterói, derrotados por uma aliança entre invasores franceses e tamoios do Rio de Janeiro, são transferidos pelo Governador-Geral Duarte da Costa para o Espírito Santo, sendo alojados na margem direita-sul da foz do rio Piraquê-açú, hoje vila de Santa Cruz, onde fundaram um pequeno aldeamento em 1556, chefiados pelo cacique temiminó Maracajaguaçu e pelo padre jesuíta Brás Lourenço, auxiliado por dois noviços, Diogo Jácome e Fabiano Lucena.

O lugarejo criado recebeu o nome de Aldeia Nova, com o objetivo de ocupar a costa do pau-brasil (Rio Grande do Norte a Cabo Frio), conquistar a terra e evangelizar os índios da região. Entretanto, Aldeia Nova teve desenvolvimento lento por causa da grande quantidade de formigas “cabeçudas”, que destruíam as lavouras, o que levou os padres a fundar outra aldeia em 1557, em Campos do Riacho, que também cresceu lentamente.

Anos depois, em 1580, início do domínio espanhol (1580-1640), os jesuítas transferiram os índios, já aldeados, para o núcleo que fundaram em Nova Almeida, o qual chamaram Aldeia Nova dos Santos Reis Magos, ficando a Aldeia de Santa Cruz com o nome de Aldeia Velha, pertencente ao futuro Município de Santos Reis Magos, que mais tarde passou a se chamar Nova Almeida.

Em 1595, o Padre Domingos Garcia mandou ao sertão dois principais índios Tupinikim, Arco Grande e um outro, convertidos e respectivamente rebatizados com os nomes de Miguel de Azeredo e Inácio de Azevedo, para trazer seus parentes que fugiram ao massacre do novo Governador Mem de Sá, de 1560, do sul da Bahia ao norte do rio Cricaré, atravessando e se embrenhando nas matas do rio Doce, em direção a Minas Gerais, onde foram encontrados e trazidos para a aldeia de Reis Magos, caminhando 400 léguas.

Quinze anos depois, já em 1610, o Padre João Martins conseguiu a doação de uma sesmaria aos indígenas de 2.160 km2 (ou sejam 72 km de sul a norte por 30 km no sentido leste-oeste, do mar para dentro), de Jacaraípe a Linhares, pelo Governador da Capitania, possivelmente Miguel de Azeredo, que substituía D. Luiza Grinalda, donatária, viúva deste 1588 do filho do donatário Vasco Fernandes Coutinho, com o mesmo nome, de quem era Capitão de Ordenanças.

Abandonada por 110 anos, desde 1580, Aldeia Velha foi repovoada em 1790, por 30 casais portugueses, trazidos pelo Capitão Mongeardino, os quais se espalharam para o norte, chegando ao vale do rio Riacho onde, em 1800, fundaram na foz desse rio, o Quartel do Riacho, contra a presença dos índios Botocudo, dando origem ao povoado de Barra do Riacho.

No período neocolonial (1810-1930), já em 1815, foi fundado o Quartel de Comboios e, após a Independência do Brasil, já em 1828, a Intendência de Campos do Riacho, hoje Vila do Riacho. Em 1836, é construído o frontispício da Igreja Católica de Santa Cruz., e em 16 de dezembro de 1837, a Lei Provincial nº 5 eleva Aldeia Velha à condição de Distrito e Vila do Município de Reis Magos, com sede onde hoje é Nova Almeida. Em 1840, é criada a primeira escola oficial para meninos. A emancipação política do Distrito ocorreu em 03 de abril 1848, tornando-se o Município de Santa Cruz. Viajantes franceses e alemães visitaram o novo município e relataram suas memórias das viagens.

O progresso do lugar atraiu, em 1851, o imigrante italiano Pietro Tabacchi (depois, empreendedor e comerciante local, proprietário da Fazenda das Palmas) e a visita do Imperador D. Pedro II, em 1860. Em 1864, foi construída a 1ª Igreja Católica de Vila do Riacho.

Após várias negociações, Tabacchi obteve do Imperador, em 1873, permissão para trazer 70 famílias do Tirol (Itália), para trabalharem em sua Colônia “Nova Trento”, nos limites do município vizinho de Fundão, seis horas de viagem a pé. Chegaram 386 tiroleses em Vitória, em 17-02-1874, a bordo do brigue-barco “Sofia”. Após dez dias de quarentena, foram trazidos para Santa Cruz, a bordo do patacho “N. S. da Penha”. Essa foi a primeira imigração italiana para o Brasil. Santa Cruz já havia se tornado o berço das imigrações portuguesa e africana.

Houve um desentendimento entre Tabacchi e os imigrantes, e após rebelarem-se, espalharam-se pelo centro-norte-sul do Espírito Santo, criando várias cidades e municípios. Em 1875, uma segunda leva de imigrantes chegou no navio “Rivadávia”, mas foi com a terceira leva, chegada no navio “Columbia”, em 1877, que o Presidente da Província, Abreu Lima, fundou no sertão, o Núcleo Colonial “Santa Cruz”, para italianos, para o qual nomeou o General Aristides Guaraná como Diretor.

O núcleo mudou de nome várias vezes até tornar-se Ibiraçu, de onde os italianos se espalham para o norte do município de Aracruz, com a construção da linha telegráfica Vitória-Linhares. O progresso continuou e, em 1891, Riacho e Ibiraçu se emancipam de Santa Cruz. Ribeirão (Guaraná), povoado do Distrito de Riacho, torna-se também distrito em 1911.

No período nacional-desenvolvimentista (1930-64), o município de Santa Cruz definhou na periferia da capital Vitória. Em 1930, é construída a Iº Igreja Católica, em Barra do Riacho. Para evitar a falência do município de Santa Cruz, o então Município de Riacho, com seu distrito Ribeirão, retornam ao município-mãe em 1931, após 40 anos de separação.

Em 1940, Armando Lobo, filho do Prof. Antônio da Rocha Lobo, completa em 30-07-1940 a doação de mais 20 hectares, somando-os aos 30 já concedidos por seu pai em 1912, constituindo-se no patrimônio de Barra do Riacho. Em 1942, foi construída a primeira Igreja Batista de Barra do Sahy, que originou outras igrejas mais tarde. Em 1944, a Companhia Ferro e Aço, de Vitória (COFAVI) recebe concessão do Governo Estadual e desmata de Aracruz a Barra do Riacho. Em 1963, vai à falência e os lenhadores e carvoeiros, por falta de indenizações, tornam-se posseiros de “seus” terrenos.

Em 1943, pelo Decreto-lei Estadual nº 15.177, a cidade, o distrito e o município de Santa Cruz, passaram a chamar-se Aracruz, que significa “pedra do altar da cruz”. Cinco anos depois, em 1948, a Resolução nº 1, da Câmara Municipal decidiu a transferência da sede do município para o povoado de Sauaçu, mas, devido à resistência dos moradores de Santa Cruz, a transferência ocorreu de fato em 1950, tendo o Prefeito Luís Theodoro Musso surpreendido a todos de madrugada, comandando em bando de cavaleiros armados, os quais carregaram os documentos municipais, episódio conhecido como “o roubo da Sede”.

Em 1957, foi criado o Ginásio Sauaçu, baluarte do ensino que deu origem à atual FACHA. O progresso das serrarias e desmatadores, fez circular dinheiro, comércio e empregos na nova cidade de Aracruz, para onde veio o Banestes em 1962.

No período da modernização dependente (1964-1990) o município sofreu os vários impactos da vinda da Aracruz Florestal, e melhoramentos ocorreram na cidade como: Fundação do Hospital São Camilo, a construção da COHAB – Vila Rica, a nova Prefeitura e outros. Em 1972, nasce a Aracruz Celulose e é feita a sagração da Igreja Católica Matriz.

Em 1973, incentivado pelos Tupinikim Alexandre Sizenando e Benedito Joaquim, que reclamavam da perda de sua identidade cultural, o índio Juruna Itatuitim, Delegado da FUNAI, faz o reconhecimento dos remanescentes Tupinikim de Caieiras Velhas, Irajá, Pau-Brasil e Comboios e, assim, começa a luta pela demarcação das terras, que vai durar 25 anos até à solução definitiva. Em 1976, o jovem José Sizenando, de apenas 17 anos, é eleito cacique da principal aldeia Tupinikim, Caieiras Velhas, e inicia a luta em 1979. De 1975-78, foi feita a montagem da primeira fábrica da Aracruz Celulose e, em 1978, começa o funcionamento da fábrica, produzindo e exportando polpa branqueada de celulose para o mercado internacional.

Em 1980, os moradores de Barra do Riacho fundaram sua associação comunitária, a ACBR. Em 1983, foi criado o distrito de Jacupemba e, em 1985, surge o movimento de emancipação da Orla de Aracruz. Para evitar a separação, o Prefeito Heraldo Musso anexa, em 1990, a área da fábrica ao distrito da Sede, abortando o distrito de Barra do Riacho, já aprovado pela Câmara Municipal de Aracruz, e que tramitava na Assembléia Legislativa do Espírito Santo, faltando apenas sua homologação pelos deputados. Tal projeto de emancipação distrital fora atropelado pelo processo de emancipação, de 1985, que tinha prioridade.

Em 1985, foi realizado o Iº Encontro Indígena do Espírito Santo, em Barra do Riacho, pelo Prof. José Maria Coutinho, presidente da ACBR, dando início à revitalização cultural dos Tupinikim e Guarani, com mais dois encontros em 1989 e 1990, onde, várias organizações não-governamentais vieram prestar serviços aos indígenas.

No período da globalização subordinada (1990 – hoje), o Município de Aracruz viu a Aracruz Celulose ser duplicada, construindo mais duas fábricas (B e C) e expandindo sua importância, conquistando ainda mais o mercado internacional. Também vieram para o município a Canexus e a Degussa / Bragussa e outras empresas, também localizadas em Barra do Riacho.